domingo, 27 de julho de 2014

O vôo

Tenho ido à Urca duas vezes por semana por conta de sessões de fisioterapia. Quando saio de lá, sento em uma pracinha tranquila e arborizada para pegar o ônibus e ir trabalhar. Sempre penso que um dia vou morar na Urca.
Já sentada dentro do ônibus, a moça que estava ao meu lado disse: 
- Tem um bicho na sua blusa.
Gelei. Imaginei imediatamente que fosse uma barata, mas para minha grata surpresa era uma joaninha. Uma linda joaninha vermelha de bolinhas, igual a de desenho de livro infantil..
- Coitada, eu falei. Como vou fazer para salvá-la?
O ônibus era com ar-condicionado e janelas lacradas e eu não tinha como fazê-la voar e seguir seu caminho.
Ela passeava lépida e fagueira por minha barriga, meu braço, minhas mãos e a moça ao meu lado, em pânico absoluto, fingia não estar acontecendo nada. Vai entender....
Falei para ela que quando eu era pequena tinha mania de colecionar joaninhas. Guardava dentro de caixas de fósforos e colocava no cantinho do jardim. Deixava a caixa entre-aberta para que elas pudessem sair e respirar! Era uma brincadeira deliciosa.
Fiquei me divertindo com a joaninha em seu passeio corporal e pensando se ela aguentaria até Ipanema onde eu poderia colocá-la em algum jardim.
A moça levantou-se e nem despediu de mim. Só sei que com esse movimento brusco, perdi a joaninha de vista.
Comecei a procurar discretamente para não acharem que eu era louca. 
Não encontrei mais e fiquei arrasada.
Então pensei que ela pudesse ter aproveitado e voado para casaco ou para a bolsa da apavorada moça. Era uma saída certa. 
Sem saber de nada a moça deu nova liberdade para a frágil joaninha que tanto a apavorou e eu arrumei um final feliz para ela e para mim.



Nenhum comentário:

Postar um comentário