Alguém trazia de viagem e te dava de presente. Eram as mais diversas cores que tinham haver com as cores dos orixás ou com a cor que você mais gostava, já que ia ficar tanto tempo com ela no braço.
Uma amiga amarrava no seu pulso com 3 nós e um pedido para cada nó. Pronto, um ano e meio com a fita até arrebentar. Certa vez, em um casamento onde eu era madrinha, tive que colocar uma pulseira por cima da fita que estava um verdadeiro trapo desfiado e que não ia combinar com a roupa.
Depois teve a época em que amarrávamos no tornozelo. Ah... agora sim, aquele trapinho não ia mais incomodar o figurino de determinados lugares. Na perna quase ninguém reparava.
Quanto aos pedidos e que nós acreditávamos ardentemente, eles não podiam ser filosóficos como ter sempre saúde, ser feliz para sempre, emagrecer imediatamente, ter amor no coração, essas coisas. Tinham que ser pedidos objetivos e concretos e que demoravam tanto que quando a pulseira arrebentava, já tínhamos esquecido o que tínhamos pedido. Coisas de adolescente.
Ah, e tinha que jogar no mar quando a fita arrebentasse pois só assim os pedidos aconteceriam.
Certa vez, eu estava em Paris jantando em uma casa-barco de um casal que morava na altura do Canal de Saint Louis com o Rio Sena. Eu brasileira, meu namorado brasileiro residente na França, e o casal: ela portuguesa e ele francês. Lá pelas tantas, levanto para ir ao banheiro e a minha fitinha-trapinho do meu braço arrebenta. Eu fique paralisada com ela na mão sem saber o que fazer e ao mesmo tempo tentando lembrar os meus pedidos de quase dois anos atrás. Foram alguns momentos de angústia e perplexidade. Ficaram todos me olhando sem entender o que se passava e eu sem conseguir explicar. Bom, o francês jamais compreendeu. A portuguesa talvez, para ser simpática, riu da história. E o namorado, como todo brasileiro, sabia do poder das fitinhas.
Aí eu pensei: não posso guardar a fita na carteira até voltar para o Brasil e jogar no mar, provavelmente na praia de Ipanema. Ia demorar muito.... ainda tínhamos muita viagem pela frente. Eu não ia conseguir esperar mais.
Vou jogar no Sena, eu pensei. Não é mar, mas é água e é água corrente, então serve.
Sempre tive a capacidade de mudar as regras dos jogos e das receitas culinárias e portanto transformar o mar em rio, era fácil.
Subimos para a proa do barco e lá no cantinho fiz uma breve oração ao Nosso Senhor do Bonfim agradecendo mais ao que estava acontecendo naquele momento do que aos pedidos que eu já não lembrava com exatidão. E assim lá se foi minha fitinha branca nadando no Sena.
Acho que está no hora de voltar a Salvador e amarrar outra fitinha no meu braço. Quem sabe da próxima vez ela arrebenta nas Ilhas Gregas?